Autossabotagem

A autossabotagem é uma das maiores armadilhas mentais e emocionais em que alguém pode cair. De maneira resumida, é uma série de comportamentos e pensamentos que alguém tem, que a levam a resultados contrários do que ela realmente deseja, ou a deixam mais longe ainda dos seus objetivos. Um ponto muito importante para se entender sobre a autossabotagem é que é uma forma de proteção e defesa do nosso “sistema” psíquico. São tentativas de evitar sair da zona de conforto (nunca entrando na zona de crescimento). Tudo isso vem de um medo da vulnerabilidade – medo de ser machucado, abandonado novamente, de falhar, não conseguir, de se sentir insignificante, incompetente; esses medos e inseguranças aparecem juntos aos desejos de se relacionar, crescer profissionalmente, etc.

Muitas pessoas que estão presas em ciclos de autossabotagem (principalmente depois de se darem conta que estão se sabotando) têm muita culpa e acabam cobrando mais ainda de si mesmas, muitas vezes se tratando mal, cuidando menos de si mesmas, ou através de pensamentos negativos como “sou burro, incompetente” (ou até xingamentos piores) – o que também são sinais de baixa autoestima. Outros pensamentos comuns são “não consigo”, “não mereço”, “não dou conta”, e diversos outros.

A armadilha da autossabotagem pode se manifestar de diversas maneiras e em contextos diferentes. No trabalho, pode aparecer como uma atitude passiva diante de oportunidades, levando a pessoa a não participar de projetos que poderão contribuir para seu crescimento profissional, recusar oportunidades de trabalho melhores, ou mesmo fazendo com que permaneça em um emprego ruim (em diversos sentidos, como ambiente ou colegas ruins, chefe autoritário e difícil de lidar, regras excessivas e sem sentido, etc.) mesmo tendo a possibilidade de conseguir outro que seja melhor. Outro exemplo é assumir responsabilidades, sem depois fazer sua parte, podendo prejudicar outras pessoas ou o andamento de algum projeto ou trabalho. Também é comum se ocupar com outras questões (ou mesmo inventar algum motivo e mentir) para se esquivar de certas responsabilidades profissionais, ou mesmo de boas oportunidades de crescimento. E, às vezes, algumas pessoas “travam” diante de tarefas importantes que as ajudarão a crescer mais, sentem um bloqueio mental que é mais difícil de superar.

Nos relacionamentos, a autossabotagem pode atrapalhar a comunicação, o aprofundamento da relação e da intimidade, e até mesmo levar a términos de relacionamentos que tinham um bom potencial para se tornarem duradouros e bastante satisfatórios. A forma mais comum é a de sempre se envolver com pessoas que não querem construir um relacionamento sério, que mostram que se importam pouco, com certa frieza e distância, que preferem só “ficar” e manter a relação casual e rasa. Outra forma bastante comum é entrar em um relacionamento com alguém que tem interesse mútuo em ter uma relação séria e com compromisso, mas não se deixar envolver, mantendo uma certa distância emocional (às vezes física também, passando menos tempo juntos), com dúvidas de que realmente pode dar certo, criando discussões e desentendimentos por questões simples de se resolver, ou mesmo pensando “é bom demais para ser verdade”.

Em casos mais complicados, quem está preso na autossabotagem corta laços mesmo antes de ter um envolvimento mais profundo com alguém de quem está gostando (ou completamente evitam relacionamentos amorosos), mesmo desejando ter um bom relacionamento e vendo que é uma relação que pode ser duradoura e muito satisfatória, com um sentimento de “não mereço”, “não consigo”, ou encontrando outros motivos para terminar essa relação que mal começou. O mesmo vale para o lado profissional, mesmo sendo competente e desejando crescer mais profissionalmente, com mais conquistas, melhor remuneração, etc., ainda permanece na mesma situação, sem fazer nada para crescer, ou fazendo o mínimo possível para tentar se livrar do desconforto e da insatisfação de não crescer. Esses bloqueios emocionais, esses sentimentos, sempre são muito fortes e há pouquíssimas coisas que o outro (em um relacionamento) possa fazer para a pessoa mudar de ideia, pois é algo que ela precisa trabalhar em si mesma, preferencialmente com ajuda profissional, pois na autossabotagem há uma maior tendência a ter “recaídas”, voltando a se sabotar.

O caminho da recuperação da autossabotagem, na psicoterapia, envolve um processo profundo de autoconhecimento, para saber mais sobre sua história, sobre o que originou todos esses padrões emocionais, comportamentais e mentais, que bloqueiam seu caminho e impedem de alcançar o que deseja e, muitas vezes, também o que precisa. A recuperação é um conjunto de aprendizados, que te levam a ver essas situações de maneira diferente, te levam a se enxergar de uma maneira diferente, com mais compaixão e estima, e a agir de acordo com que você deseja, quebrando os ciclos de autossabotagem. É um tratamento que alinha seus pensamentos, suas emoções e suas ações com o que você quer e o que você precisa.